No dia 16 de agosto foi realizada uma agenda de diálogo e interlocução política junto à Delegação da União Europeia no Brasil. O diálogo teve a coordenação do presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos – CNDH, Leonardo Pinho, e do Embaixador da União Europeia, Ignacio Ybanez. A atividade encerrou a Semana de Ativismo em Direitos Humanos, realizada entre os dias 12 e 16 de agosto.
Dentre os temas debatidos, estavam as consequências do congelamento dos investimentos em políticas públicas em decorrência da Emenda Constitucional 95, o avanço do agronegócio e da liberação de agrotóxicos em prejuízo dos povos indígenas e outros povos e comunidades tradicionais, o genocídio da população negra e a política de encarceramento em massa, as preocupações com o Acordo de Cooperação União Europeia e Mercosul, o aumento da violência contra defensoras/es de direitos humanos e a importância da cooperação internacional para o fortalecimento da sociedade civil.
Além da Delegação da União Europeia e das representações dos países que a compõem, estiveram presentes representantes das embaixadas da Suécia, Suíça, Canadá, Nova Zelândia, Noruega e da Organização das Nações Unidas – ONU.
Participaram da articulação e da reunião representantes da Articulação Monitoramento dos DH no Brasil, Associação Brasileira de Organizações não Governamentais – ABONG, Christian AID, Organização pelo Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas – FIAN/Brasil Fórum Ecumênico ACT Brasil, MISEREOR, Movimento Nacional dos Direitos Humanos – MNDH, Processo de Articulação e Diálogo Internacional – PAD, e União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias – Unicopas.
“Avaliamos que a atividade de interlocução política com a União Europeia e embaixadas foi muito positiva para que as organizações e articulações pudessem pontuar uma série de preocupações no âmbito dos direitos humanos e da democracia no país. Diante das questões pontuadas, foi também uma oportunidade de manifestar a necessidade de aprofundar o diálogo e os esforços para fortalecer a ação de cooperação internacional junto às organizações brasileiras e suas frentes de atuação”, afirmou Eneias da Rosa, secretário executivo da Articulação para o Monitoramento dos DH no Brasil.
FIAN Brasil e FIAN Internacional protocolaram um pedido de amicus curiae no Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do Recurso Extraordinário Nº 1.017.365, que trata sobre o caso de reintegração de posse movido pela Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina (Fatma) contra a Fundação Nacional do Índio (Funai) e indígenas do povo Xokleng, que ocupam uma área reivindicada – e já identificada – como parte de seu território tradicional.
O julgamento no STF poderá decidir o futuro das demarcações de terras indígenas em todo o país. Em fevereiro de 2019, o Recurso teve sua repercussão geral reconhecida pelo STF – o que significa que a relevância da discussão para outras situações semelhantes foi reconhecida.
O que estará em disputa neste julgamento é a tese do marco temporal, uma interpretação que restringe os direitos dos povos indígenas às suas terras, impondo a promulgação da Constituição Federal de 88 como um marco para o reconhecimento do direito ao território de povos indígenas do país, negando assim, seu direito de povo originário. A tese do Marco Temporal, que deveria ser aplicada apenas no caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (caso de 2009), já afetou, por exemplo, as terras Limão Verde, Guyraroká, e, mais recentemente Buriti, todas no Mato Grosso do Sul. Com essas decisões, o STF abriu precedentes que já estão sendo replicados para expulsar povos indígenas de suas terras.
A amicus curiae, termo em latim que significa “amigo da corte”, permite que uma pessoa, entidade ou órgão com profundo interesse e conhecimento sobre o tema contribuam subsidiando o tribunal. Caso o ministro Edson Fachin, relator do processo, aprove o pedido da FIAN, a organização participará do processo, ampliando a discussão sobre o tema em questão antes do julgamento no STF, que ainda não tem data marcada para acontecer.
“A amicus curiae abre a possibilidade de participação e incidência sobre judiciário, para instituições que não são partes no processo. Nosso interesse é fornecer subsídios para o julgamento do processo, reforçando a estreita relação entre o direito à terra e o direito à alimentação. A violação do direito à terra, portanto, abre portas para outras graves violações de direitos o que, a propósito, vem sendo reconhecido pelos sistemas internacionais de proteção de direitos humanos”, ressalta a secretária geral da FIAN Brasil, Valéria Burity.
No pedido de aceitação como amicus curiae as organizações solicitam que sejam anexado um Memorial que destaca que
“a realização e o gozo do direito à alimentação dependem da realização efetiva de outros direitos humanos. Os povos indígenas têm historicamente mantido uma relação holística e orgânica com seu território ancestral e suas terras tradicionais, que são o núcleo de sua identidade. Produzir alimentos não é apenas uma questão de segurança alimentar. É também parte de sua identidade cultural, e o direito à alimentação não pode ser isolado do controle e da soberania sobre seus territórios, bem como do acesso a alimentos culturalmente apropriados”, destaca trecho do documento.
O Memorial conta com o apoio da Clínica de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da Universidade de Miami (Estados Unidos) e Clínica de Direito Ambiental da Universidade de Saint-Louis (Bélgica) e é assinado também pelo membro do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas, Olivier de Schutter, que entre 2008 e 2014, foi Relator Especial da ONU para o Direito à Alimentação, nomeado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Os índios Xokleng da TI Ibirama em Santa Catarina, são os sobreviventes de um processo brutal de colonização do sul do Brasil iniciado em meados do século passado, que quase os exterminou em sua totalidade. Apesar do extermínio de alguns subgrupos Xokleng no Estado, e do confinamento dos sobreviventes em área determinada, em 1914, o que garantiu a “paz” para os colonos e a consequente expansão e progresso do vale do rio Itajaí, os Xokleng continuaram lutando para sobreviver a esta invasão, mesmo após a extinção quase total dos recursos naturais de sua terra, agravada pela construção da Barragem Norte. (Fonte: Instituto Socioambiental)
No dia 3 de julho, o Comitê de Seleção se reuniu na sede da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, em Brasília, para escolher novos relatores e relatoras de direitos humanos da Plataforma Dhesca Brasil.
Ao todo, foram 57 pessoas que se inscreveram no edital público, interessadas em integrar o grupo de relatores nacionais da Plataforma Dhesca Brasil. O Comitê de Seleção foi constituído pela Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal, Déborah Duprat; pelo presidente do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, Leonardo Pinho; pela representante das agências da ONU no Brasil, Raquel Quintanilha (oficial do Programa para Equidade de Gênero, Raça e Etnia); por Benilda Brito, da organização de mulheres negras AMNB, representante das filiadas da Plataforma DHESCA; e pela coordenação executiva da Plataforma: Denise Carreira e Juliane Cintra, da Ação Educativa; Maria Sylvia de Oliveira, do Geledés – Instituto da Mulher Negra; de Melisanda Trentin, da Justiça Global; e de Darci Frigo, da Terra de Direitos.
De acordo com o edital, a seleção contemplaria seis pessoas para integrar o grupo de Relatores DHESCA (Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais) da Plataforma. Devido ao grande número de candidatos – e para atender aos critérios de gênero, raça, região e atuação política – o Comitê ampliou para oito o número de relatores selecionados, sendo quatro pessoas negras e quatro pessoas brancas. As pessoas selecionadas foram:
Carlos Veiner (RJ) – professor titular aposentado do IPPUR da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenador do Fórum de Ciência e Cultura e da Comissão da Verdade da UFRJ. Dirige a Rede de Observatório de Conflitos Urbanos, o Observatório Socioambiental de Barragens e o Núcleo Experimental de Planejamento Conflitual.
Dandara de Sousa (PA) – graduada em Direito, ativista, assessora em advocacy, e coordenadora de projetos relacionadas às estratégias de defesa de Direitos Humanos no Centro de Formação do/a Negro/a da Transamazônica e do Xingu e no Movimento Xingu Vivo para Sempre.
Isadora Salomão (BA) – arquiteta e urbanista, é mestra em Desenvolvimento e Gestão Social, atua com Planejamento e Desenvolvimento Territorial, Direito à Cidade e com a Agenda do MROSC – Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil. Trabalhou em organizações como a ABONG, o Centro de Referência Integral de Adolescentes, e a Superintendência de Políticas para as Mulheres da Secretaria de Promoção da Igualdade da Bahia.
Jaqueline de Oliveira (MG) – mestra em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco e doutoranda pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência em pesquisa de patrimônio cultural imaterial de comunidades tradicionais, além de assessorar comunidades atingidas por empreendimentos, como barragens hidrelétricas, obras de infraestrutura e atividades mineradoras.
Laura Tavares (RJ) – professora titular aposentada da UFRJ, mestra em Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ) e doutora em Política Social (IE – UNICAMP). Política e planejamento de saúde, seguridade social e desigualdades sociais são os principais temas de trabalho. Atualmente, é membro do Conselho Acadêmico da FLACSO (Faculdade Latino americana de Ciências Sociais) – Brasil.
Luiz Fábio Paiva (CE) – professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará. Pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, atualmente, coordena o projeto de pesquisa sobre transformações sociais do crime em Fortaleza. É colaborador do Observatório da Violência de Gênero do Amazonas, do grupo de pesquisas ILHARGAS – Cidades, Políticas e Saberes na Amazônia e do Fórum Popular de Segurança Pública do Ceará.
Mariana Santarelli (RJ) – consultora do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), possui título de Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela UFRJ e de Mestrado em Políticas de Desenvolvimento pela ISS – Holanda.
Udinaldo Francisco (BA) – mestre em Ciências Sociais (UFRB) e doutorando em Estudos Étnicos e Africanos (UFBA). É pesquisador associado ao Coletivo Angela Davis – Grupo de Estudos em Gênero, Raça e Subalternidade de Cachoeira – BA e desenvolve pesquisas no campo dos Estudos Queer, Gênero, Sexualidade, Morte e Espectralidade. É membro da International School of Transnational Decolonial Black Feminism (Global Dialogue).
O Comitê de Seleção também revalidou o mandato de sete ex-relatores nacionais, visando ampliar e fortalecer o Grupo de Relatores e Relatoras DHESCA da Plataforma. São eles: Beatriz Galli, Clóvis Zimmermann, Denise Carreira, Guilherme Zagallo, Lúcia Moraes, Nelson Saule e Orlando Santos Júnior.
A cerimônia de posse dos relatores está prevista para 14 de agosto, a partir das 18h30, na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília/DF.
A IMPORTÂNCIA DAS RELATORIAS
“Os relatores e as missões realizados pela Plataforma Dhesca são fundamentais para a promoção e a garantia de Direitos humanos no Brasil, em especial, nesse momento de Estado de Exceção” afirma Leonardo Pinho, presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos.
Racismo, Segurança Pública e Violência; Austeridade e Seguridade Social; e Territórios, Atingidos e Meio Ambiente serão os grandes eixos das próximas missões das relatorias, que, ao contemplar a integralidade dos DHESCA’s, deverão abordar, também, as questões de raça e de gênero de forma transversal. Além desses três eixos prioritários, o grupo de relatoras e relatores nacionais também poderá realizar missões de investigação sobre outras agendas e questões emergenciais.
Para a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, a atuação desses especialistas é fundamental para o enfrentamento dos retrocessos no campo dos direitos, sobretudo diante das políticas de austeridade que têm aprofundado as desigualdades no país. “É de suma importância a continuidade do trabalho da Plataforma sobre os efeitos da austeridade nos direitos humanos. A Emenda Constitucional 95 representa um gigantesco retrocesso e a desconstrução das políticas sociais do país”, destaca a Procuradora.
O QUE SÃO AS RELATORIAS DE DIREITOS HUMANOS?
Inspirada nos Relatores Especiais da ONU, a Plataforma DHESCA criou em 2002 as Relatorias de Direitos Humanos. Desde então, mais de cem missões foram realizadas denunciando nacionalmente e internacionalmente violações de direitos humanos, apresentando recomendações ao Estado para garantir a dignidade e proteção das pessoas em situação de violação de direitos e influenciando legislações e o desenho de políticas públicas no país.
As Relatorias têm por objetivo contribuir com a adoção, pelo Brasil, de um padrão de respeito aos direitos humanos, tendo por fundamento a Constituição Federal, o Plano Nacional de Direitos Humanos, os tratados e as convenções e os tratados internacionais de proteção aos direitos humanos ratificados pelo Brasil e as recomendações dos/as Relatores/as da ONU e do Comitê Dhesca.
A função de Relator/a não é remunerada e é exercida por pessoas com grande reconhecimento no campo em que atuam, responsáveis por liderar investigações independentes sobre violações. Desde o início, as Relatoras e os Relatores são eleitos por meio de um edital público, coordenado por um Comitê Interinstitucional composto por agências da ONU, Ministério Público, órgãos nacionais de direitos humanos e redes de sociedade civil.
Nos dias três e quatro de julho, a coordenação e representantes de 25 organizações que integram o Pad – Processo de Articulação e Diálogo reuniram-se em Brasília para discutir os cenários nacional e internacional e quais as perspectivas do ponto de vista da agenda de direitos humanos e democracia.
Também participaram do encontro os participantes dos Grupos Temáticos Bens Comuns e Criminalização das Lutas Sociais e Direitos Humanos. No primeiro dia, algumas falas de convidados trouxeram mais luz às análises.
Convidados
O ex-ministro da Justiça do Governo Dilma, Eugênio Aragão participou da roda de conversa e trouxe importante análise da conjuntura política atual. Ele fez uma retrospectiva história, antes de analisar o momento político atual. E falou da importância de falarmos para além da nossa bolha.
“Nós estamos falando dentro da nossa bolha. Porque fora da nossa bolha o ambiente é hostil no sentido de Não sei, não quero saber, tenho raiva de quem sabe. Isso gera uma dificuldade em todos nós em avançar no debate. Isso nos gera ansiedade, frustração. Muitos de nós estão doentes. Porque está se perdendo o sentido da luta. E precisamos encontrar uma forma de nos comunicar com essa massa de pessoas que ‘Não sabe, não quer saber’ que estão fora da nossa bolha. Porque a nossa bolha não é suficiente para mudar a situação”, comentou Aragão.
E concluiu: “Vamos precisar discutir além da nossa bolha no ponto de vista político. É preciso abrir esse espaço de diálogo com uma grande estratégia de comunicação de massa se quisermos mudar a atual situação.”
O debate sobre a importância de dialogarmos com o outro lado foi importante para provocar o grupo a compartilhar como estão lidando além da nossa bolha nos territórios onde atuam.
Também foi convidado o Jonas Valente, Jornalista e mestre em Políticas de Comunicação e integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, entidade que luta pela comunicação como direito humano.
Valente iniciou sua fala trazendo à tona o pessimismo que assola todos que lutam por direitos no Brasil. Falou sobre a importância das organizações traçarem estratégias de comunicação a partir da realidade atual. Da importância de incluir no debate da comunicação o tema da transformação digital. A mistura da comunicação e tecnologia.
Logo no início ele se desculpou, alegando que infelizmente a fala dele traria certo pessimismo e que quanto mais analisa a conjuntura, observa que a situação é pior do que se imagina.
Falou sobre a importância em analisarmos o ambiente onde o jogo está sendo jogado e a necessidade de olharmos onde o embate está sendo feito e a forma. Valente explicou: “Muitos falam que nós não estamos sabendo nos comunicar e não é só isso. Temos que olhar para o ambiente onde o jogo é jogado. A gente tem nas grandes plataforma como Facebook, Twitter e outras a arena onde o jogo está sendo jogado. E esse ambiente é muito mais complexo do que antes era aquele do debate que era monopólio da Globo.E não estou fazendo um discurso de ode à internet, como se a radio e televisão não fossem mais importantes, ao contrário, todas continuam sendo importantes. A TV Globo continua sendo um ator político chave, o impeachment da presidente Dilma mostrou isso; mas não têm mais o monopólio. E as disputas do governo Bolsonaro mostrou isso: ainda temos atores chaves, não só na radiodifusão, estamos falando de um consórcio que se formou para dar peso ao governo Bolsonaro com Band, SBT e Rede TV, estamos falando de uma rede enorme de veículos vinculados a grupos religiosos, que muitas vezes dá sustentação a este governo. E esses grupos religiosos são um ator chave na comunicação brasileira hoje”.
E embora tenha afirmado que não tinha uma receita de por onde seguirmos neste clima tão hostil, ele fez uma reflexão sobre caminhos que devam ser trilhados na comunicação: “A gente precisa disputar as regras do jogo e jogar o jogo. Temos que fazer a disputa nas redes diuturnamente nas redes. A esquerda como um todo precisa fazer isso. E é difícil, porque cada agente político tem os seus canais, tem os seus discursos… Mas se estamos numa condição muito desigual, se a gente não organizar o nosso time, se a gente não contar com a base social, que a gente atinge pra fazer as nossas lutas; nós vamos não apenas ser derrotados novamente, mas cada vez mais derrotados. Porque apesar de estarmos vivendo com este público do ‘não sei e tenho raiva de quem sabe’, todos os metodos de sentimentos (que é o das redes sociais) mostram que você tem uma coluna do meio sim. Que olha pro lado e diz: Áh, este petista pelo amor de Deus, mas este Bolsonaro é meio doido’. E este vácuo vai ser ocupado por alguém. Por quem, não sei. E temos muitos agentes políticos tentando ocupar este espaço.”
Debate sobre ODS
A discussão sobre os ODS e a agenda 2030 também foi tema do encontro. A temática está na agenda do PAD – por ser um espaço de diálogo agências ecumênicas s e as organizações apoiadas no Brasil, que estão fazendo uma reflexão sobre os objetivos de desenvolvimento sustentável. E essa reflexão é necessária porque as agências de cooperação captam cada dia mais recursos nos seus governos e estes querem sempre saber em qual objetivo de desenvolvimento se encaixam.
O Doutor em Sociologia e professor da UNB, Sérgio Sauer foi convidado a apresentar estudo que elaborou sobre alguns pontos dos ODS e a agenda 2030.
O desafio foi fazer uma certa análise de conjuntura para explicar o estudo que foi realizado no primeiro trimestre de 2018. O estudo foi um olhar para os ODS 1,2,6, 10 e 15. Os governos tomaram esta agenda 2030 como uma agenda muito importante.
A fala de Sauer foi centrada no como a cooperação internacional se vincula aos ODS. A pesquisa foi focada menos em analisar os ODS em si, mas sim a relação da cooperação entre os governos e a sociedade civil.
Ele começou com uma introdução sobre os compromissos que o país assume e as ferramentas usadas nas relações construtivas entre Estado e Sociedade Civil no Brasil. Falou da importância da construção a partir da sociedade civil, durante 13 anos do governo petista, da Comissão Nacional para os ODS criada a partir do Decreto 8892/2016 e o Acordão 709/2018 do TCU, reconhecendo os esforços do Governo na sua implantação
Na visão de Sauer, o debate sobre os ODS no Brasil se enfraqueceu com a extinção dos Conselhos Sociais e o país será incapaz de cumprir qualquer acordo da agenda 2030. Para ele, precisamos dialogar com esta agenda 2030 e retomar a questão sob a perspectiva da cooperação e do trabalho de base.
O segundo dia do encontro foi um espaço para o diálogo entre a coordenação e as organizações que integram o Pad. Foi apresentado o planejamento dos próximos anos e realizada coletivamente a construção de agendas do PAD.
Informes sobre a agenda de Incidência Internacional construída em parceria com a Articulação para o monitoramentos dos DHs foram discutidas com o Grupo, os próximos passos nos estudos dos ODS e a Agenda que o Pad fará ainda em 2019 nas embaixadas de 8 países.
Para melhor dinâmica, os participantes dividiram-se em 2 grupos, por afinidade: um grupo discutiu a agenda internacional e a agenda de incidência nas embaixadas e o segundo grupo discutiu a Agenda 2030.
Ao final os encaminhamentos foram discutidos e a distribuição de tarefas foi realizada. A avaliação de todos foi de que o encontro foi muito produtivo e que trouxe grandes reflexões sobre o momento que passa nosso país e sua influência nas organizações participantes.
Após aprovação, com emendas, no Congresso Nacional, o Governo Federal sancionou, no dia 18 de junho, a Medida Provisória Nº 870, agora Lei Nº 13.844. A MP recebeu mais de 500 emendas parlamentares, entre estas a que recriava o Consea – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, alocando-o no Ministério da Cidadania. No entanto, ao sancionar a Lei, o presidente Jair Bolsonaro vetou o inciso que trata sobre a recriação do órgão.
O veto do Presidente contraria os interesses da sociedade, que desde a publicação da MP 870, em 1º de janeiro, tem realizado intensa mobilização social contra a extinção do Consea. A Comissão Mista, responsável por analisar a MP 870 no Congresso Nacional, aprovou em meados maio, a reinstalação do Consea, que tem o papel de formular, monitorar e avaliar políticas que assegurem o direito à alimentação e nutrição adequadas.
A extinção do Consea, colegiado com importância reconhecida, nacional e internacional, reafirma a pouca importância dada pelo Governo ao direito humano à alimentação e à nutrição adequadas. Não à toa, já liberou nos seis primeiros meses de mandato o uso agrícola de mais de 160 agrotóxicos.
“Nós já sabíamos dos obstáculos e desafios impostos por este Governo, considerando, principalmente, as medidas tomadas até aqui. É um Governo que tem uma linha autoritária que não quer ouvir a sociedade civil. É uma linha política que não é coerente com o Direito Humano à Alimentação ou ao que chamamos de soberania e segurança alimentar e nutricional”, aponta a secretária geral da FIAN Brasil, Valéria Burity.
O Consea era um espaço de controle social
democrático para garantir à participação da sociedade civil na elaboração e
acompanhamento de políticas públicas relacionadas à alimentação e nutrição, como
a alimentação escolar, o programa de aquisição de alimentos, a rotulagem de
alimentos, incentivos à agricultura familiar e camponesa, regulação da publicidade
de alimentos direcionada às crianças e redução do uso de agrotóxicos.
Para Valéria Burity, acabar com o Consea é uma forma de retirar direitos, especialmente dos mais pobres. “Essa é uma lógica de acabar com os direitos dos trabalhadores, uma lógica de favorecer quem tem muito privilégio e continuar matando de fome a população brasileira”.
Veto não encerra questão
O veto de Bolsonaro não é determinante. De acordo com o artigo 66, paragrafo 4º da Constituição Federal, o veto do Presidente deve ser apreciado em sessão conjunta do Congresso Nacional e pode ser rejeitado pela maioria absoluta de deputados e senadores.
Participação
Social
O Supremo Tribunal Federal suspendeu parcialmente, no dia 13 de junho, o Decreto 9.759/2019, que extingue conselhos da administração pública. Para a maioria do STF, o Decreto de Bolsonaro não é válido para colegiados previstos em Lei, incluindo os que foram criados por Decreto, mas mencionados em lei posterior.
Além de extinguir todos os conselhos nacionais, Bolsonaro também extinguiu no dia 11 de abril o Decreto nº 8.243 de 2014, que institui a Política Nacional de Participação Social – PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS.
Uma audiência pública para debater as diretrizes e
objetivos para as políticas de desenvolvimento sustentável de povos e comunidades
tradicionais, acontece nesta segunda-feira (17/06), às 10 horas, no Plenário
14, da Câmara dos Deputados, em Brasília.
Convocada pela Comissão de Integração Nacional e
Desenvolvimento Regional e da Amazônia, a audiência pública reunirá representantes
de 21 segmentos de povos e comunidades tradicionais (PCTs) do país e terá como uma
das demandas a recriação do Conselho Nacional de PCTs, extinto no dia 11 de
abril pelo presidente Jair Bolsonaro.
“O CNPCT é uma conquista dos povos e comunidades tradicionais, uma luta de muitos anos, é um espaço de Estado e não um espaço de governo. Esta audiência pública será um espaço de visibilidade política e das demandas de PCTs, principalmente para fortalecer a recriação do Conselho e fortalecer também a Política Nacional”, ressalta a presidenta do CNPCT, Cláudia de Pinho, representante da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneiras.
Além de parlamentares, também participam da
audiência pública Raimundo Konmannanjy, Povo de Terreiro ACBANTU, Benício José
de Lima, Povo indígena APOINME; Maura Ney Piemonte, Povo Cigano ACEDRO; Samuel
Caetano, Geraizeiro do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas CAA-
NM; Célia Regina das Neves, Extrativista Costeiro e Marinho CONFREM BRASIL; Francisca
da Silva Nascimento, Coordenadora Geral do Movimento Interestadual das
Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB; Roberta Amanajás, assessora de Direitos
Humanos da FIAN BRASIL – Organização pelo Direito Humano à Alimentação e à
Nutrição Adequadas; João Araújo, Rede Puxirão de Povos e Comunidades
Tradicionais; Kátia Favilla, Secretária Executiva da Rede Cerrado.
Extinção CNPCT
O Conselho foi extinto por meio do Decreto 9.759/2019, que revogou o Decreto nº 8.243 de 2014, que institui a Política Nacional de Participação Social – PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS, extinguindo assim, todos os conselhos, comissões de participação social junto ao Governo Federal.
Desde o anúncio desta medida, a sociedade civil do CNPCT tem mobilizado parceiros e instituições para a recriação do órgão à exemplo de uma minuta apresentada no dia 14 de maio, ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos solicitando a recriação do Conselho.
Sobre o CNPCT
Instituído pelo Decreto 8.750 de maio de 2016, o Conselho é um órgão de caráter consultivo e seus conselheiros e conselheiras são eleitos por meio de edital público. O processo eleitoral aconteceu ainda no mesmo ano, porém o resultado deste só foi divulgado em fevereiro de 2017. Apesar da nomeação em 14 julho de 2017, conselheiras e conselheiros eleitos só tomaram posse no dia 11 de setembro de 2018.
Entre as principais atribuições do CNPCT estão
coordenar e acompanhar a implementação da Política Nacional de Desenvolvimento
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo Decreto nº
6.040/07. A Política foi elaborada tendo como principal objetivo a promoção do
desenvolvimento sustentável desses grupos com ênfase no reconhecimento, no fortalecimento
e na garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e
culturais, respeitando e valorizando suas identidades, formas de organização e
instituições.
Povos e Comunidades Tradicionais
PCT’s são definidos como: grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de
organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como
condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e
econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e
transmitidos pela tradição.
Entre os PCTs do Brasil, estão povos Indígenas, Quilombolas, Geraizeiros, Pantaneiros, Quebradeiras de Côco de Babaçu, Povos de Terreiro e de Matriz Africana, Extrativistas, Ribeirinhos, Pescadores artesanais, Extrativistas Costeiros e Marinhos, Ciganos, entre outros.
Após intensa mobilização da sociedade civil, o Consea – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional foi recriado e desta vez alocado ao Ministério da Cidadania. A Comissão Mista da Medida Provisória nº 870, responsável por analisar a MP do Governo Federal, aprovou, no dia 9 de maio, a reinstalação do órgão, que tem o papel de formular políticas para assegurar o direito dos cidadãos a uma alimentação adequada.
“A eliminação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional não foi bem aceita pelo Parlamento Nacional, e várias emendas foram apresentadas tendo por objeto a reversão dessa providência. Esta Relatoria acolhe os argumentos expendidos, e decide-se pela eliminação da supressão, inserindo o CONSEA no corpo do art. 24, entre os órgãos que integram a estrutura do Ministério da Cidadania”, relata trecho do Parecer aprovado.
Nesta quinta-feira, 23 de maio, a Câmara dos Deputados aprovou o novo texto da MP, que agora seguirá para aprovação no Senado. Até a MP ser promulgada e começar a valer de fato, ainda existe um longo caminho a percorrer. O prazo de tramitação no Congresso Nacional é até o 3 de junho, caso ela não seja aprovada perderá o poder de Lei e poderá ser arquivada. Saiba mais sobre a tramitação da MP aqui!
Mas a forma como o Conselho será composto, como se dará a participação da sociedade civil e outras questões ainda são perguntas sem respostas.
“Sabemos muito bem como é esse Governo e que ele tem uma linha autoritária que não quer ouvir a sociedade civil. É uma linha política que não é coerente com aquilo que chamamos de Direito Humano à Alimentação ou aquilo que chamamos de soberania e segurança alimentar e nutricional. Não à toa, o Governo Federal liberou, só nesses primeiros meses, mais de 160 agrotóxicos”, aponta a secretária geral da FIAN Brasil, Valéria Burity.
A Medida Provisória 870, de 1º de janeiro de 2019, que estabelece a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios, foi a primeira publicação oficial do governo de Jair Bolsonaro e trouxe com ela várias polêmicas. Além da extinção do Consea, a Medida também retirava da FUNAI – Fundação Nacional do Índio a atribuição de demarcação das terras indígenas – esta proposta foi derrubada pela Comissão Mista.
Após a publicação da MP no Diário Oficial, ela seguiu para a Comissão Mista onde recebeu 541 emendas, propostas dos parlamentares para modificação ao texto original enviado pela Presidência da República.
Para Valéria Burity, o mais importante é ver que reagimos, resistimos e fizemos com que a nossa demanda fosse acolhida. “A não extinção do Consea agora é algo que temos que nos agarrar, mas é claro que sabemos dos obstáculos e desafios impostos por este governo, considerando, principalmente, as medidas tomadas até aqui”.
Ex-presidenta do Consea, Elisabetta Recine, aponta que embora o restabelecimento do Consea seja uma vitória, este é o momento de continuar a incidência junto aos parlamentares. “Essa foi uma etapa necessária, mas não é suficiente e ainda temos alguns desafios pela frente. Existe um conjunto de disputas na apreciação dessa MP que faz a gente ter cautela em relação ao resultado do que será essa votação no Plenário da Câmara. A sociedade civil precisa se manter atenta para que o texto da Lei seja respeitado”, alerta.
STF
O presidente Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, pautou para 12 de junho a ação que questiona e pede a suspensão do decreto do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), que extingue todos os 55 conselhos e colegiados subordinados à administração pública e com participação da sociedade civil. Bolsonaro extinguiu no dia 11 de abril o Decreto nº 8.243, de 2014, que institui a Política Nacional de Participação Social – PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS.
Sobre o CONSEA
Criado em 1994, durante o governo Itamar Franco e desativado em 1995, o CONSEA voltou a existir em 2003, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. O conselho atuava como um órgão de assessoramento imediato à Presidência da República e integrava o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan). Era um espaço institucional para o controle social e participação da sociedade, composto por dois terços de representantes da sociedade civil e um terço de representantes governamentais. Entre suas atribuições estava a participação na formulação, no monitoramento e na avaliação de políticas públicas voltadas para a garantia do DHAA.
A
sociedade civil do Conselho Nacional de Povos e Comunidades (CNPCT) se manifestou
nessa terça-feira (14/05) pela recriação do órgão por meio de uma Minuta destinada
à Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir),
que integra o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
A Minuta
surgiu após uma reunião no Ministério Público Federal no dia 10 de maio, com a
presença do Secretário Adjunto da Secretaria Especial de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial (Seppir), Ezequiel Roque, que informou sobre elaboração de
um documento solicitando a recriação do Conselho à Casa Civil. Após saber da
proposta, os representantes do CNPCT criticaram a ausência de diálogo com a
sociedade civil e propuseram uma alternativa à apresentada pela Seppir.
Um
dos principais pontos do documento diz respeito à composição do Conselho, a
proposta da Seppir é recriar o Conselho com 21 segmentos. Para os representantes dos PCT’s a composição
deve ser com 22 segmentos, incluindo os Povos Indígenas. “Somos 84 segmentos de
Povos e Comunidades Tradicionais no Brasil, do qual 28 segmentos compunham o
CNPCT. Assim, já estamos “enxugando” a participação de vários parentes neste
espaço”, destaca trecho do documento, que reforça também que a proposta é
manter o Conselho com “60% sociedade
civil e 40% governo, tendo em vista que o CNPCT é somente consultivo”.
“O CNPCT é uma conquista dos povos e comunidades tradicionais, uma luta de muitos anos, é um espaço de Estado e não um espaço de governo”, ressalta a presidenta do CNPCT, Cláudia de Pinho, representante da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneiras.
No dia 11 de abril, o presidente Jair Bolsonaro, anunciou, por meio do Decreto 9.759/2019a revogação do Decreto nº 8.243 de 2014, que institui a Política Nacional de Participação Social – PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS, extinguindo assim, todos os conselhos, comissões de participação social junto ao Governo Federal.
Sobre o CNPCT
Instituído pelo Decreto 8.750 de maio de 2016, o Conselho é um órgão de caráter consultivo e seus conselheiros e conselheiras são eleitos por meio de edital público. O processo eleitoral aconteceu ainda no mesmo ano, porém o resultado deste só foi divulgado em fevereiro de 2017. Apesar da nomeação em 14 julho de 2017, conselheiras e conselheiros eleitos só tomaram posse no dia 11 de setembro de 2018.
Entre as principais atribuições do CNPCT estão coordenar e acompanhar a implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo Decreto nº 6.040/07. A Política foi elaborada tendo como principal objetivo a promoção do desenvolvimento sustentável desses grupos com ênfase no reconhecimento, no fortalecimento e na garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, respeitando e valorizando suas identidades, formas de organização e instituições.
Por meio de Nota Pública, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH sai em defesa da permanência e do funcionamento de Conselhos, Comitês, Comissões, Grupos e Mecanismos relacionados a promoção e a defesa dos direitos humanos que possam vir a ser atingidos com a publicação do Decreto Federal nº 9.759, de 11 de abril de 2019.
A fim de se somar à busca pela permanência dos colegiados, o CNDH abre Consulta Pública para subsidiar ações do Conselho visando a defesa, a permanência e a recriação desses espaços de participação social. A Consulta Pública estará disponível até o prazo de 03 de maio e deverá levantar a área de atuação, breve histórico e justificativa da permanência do colegiado.
O CNDH considera que a extinção desses colegiados representa grave retrocesso nos processos de democratização do Estado, de controle social, participação pública e garantia da participação direta da cidadania no governo do país.
Nota pública do CNDH sobre a extinção de Conselhos, comitês, comissões através do Decreto Federal n. 9.759/2019
O CNDH embora não seja impactado pelo Decreto Federal n. 9.759, de 11 de abril de 2019, manifesta-se contrariamente à extinção de Conselhos, Comitês, Comissões, Grupos e Mecanismos relacionados a promoção e a defesa dos direitos humanos, ao controle social de políticas públicas e a aos direitos e garantias fundamentais, individuais, coletivos ou sociais previstos na Constituição Federal ou nos tratados e atos internacionais celebrados pelo Brasil.
Muitos destes colegiados extintos pelo Decreto promovem e defendem Direitos da Mulher, das Crianças e dos Adolescentes, da Pessoa Idosa, da população LGBT, da Pessoa com Deficiência, dos Povos Indígenas, da População em Situação de Rua, dos Mortos e Desaparecidos pela Ditadura Militar, dos atingidos por barragens, dos sem-terra e sem teto, dos aposentados, dos trabalhores/as; promovem a Educação em Direitos Humanos, o Respeito à Diversidade Religiosa, a Igualdade Racial; e combatem o Trabalho Escravo e a Tortura no Brasil, dentre tantos outros importantes temas e direitos, ou a violação destes direitos que acontece sistematicamente em nosso país; não podendo ser confundidos com inúmeros outros órgãos compostos unicamente por representantes dos órgãos públicos ou segmentos empresariais.
O Brasil necessita de instituições de alcance nacional, com mandato claro e independente, com representatividade social, autonomia e condições para atuar nos casos de violações de todos os direitos humanos.
O CNDH considera a extinção de Conselhos, Comitês, Comissões, Grupos e Mecanismos relacionados a promoção e a defesa dos direitos, um grave retrocesso nos processos de democratização do Estado, de controle social, participação pública e garantia da participação direta da cidadania no governo do país.
O CNDH enquanto órgão incumbido de velar pelo efetivo respeito aos direitos humanos por parte dos poderes públicos, irá analisar a extensão dos efeitos dos Decretos e recomendar aos Ministérios do Poder Executivo Federal, a recriação de todos Conselhos, Comitês, Comissões, Grupos e Mecanismos relacionados a promoção e a defesa dos direitos humanos, e a alteração dos termos e condições impostos pelo decreto que inviabilizem a efetiva participação social.
Os Conselhos Nacionais são importantes instrumentos de participação da sociedade civil no controle e implementação de políticas públicas, a situação destes colegiados e a ameaça de sua paralisação e, em alguns casos, sua extinção foram temas de uma audiência pública realizada na tarde desta quarta-feira, 11 de abril, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM).
Atualmente existem no governo federal cerca de 40 conselhos, além de outros mecanismos de participação da sociedade civil, ligados a diversos Ministérios. Tratar deste assunto, no dia em que o presidente Jair Bolsonaro completava 100 dias de governo atraiu um grande número de parlamentares, assessores e apoiadores do governo, que acompanhavam a audiência pública em clima de torcida organizada.
“Os colegiados de participação da sociedade civil no Executivo enfrentam dificuldades para continuar trabalhando. Alguns, tiveram regras alteradas ou foram extintos. Em outros casos, houveram nomeações questionáveis. Isso vai contra direitos conquistados e temos que combater essas violações. Temos que reagir aos ataques sistemáticos aos direitos humanos”, afirmou o presidente da CDHM, Helder Salomão (PT/ES).
Presente na audiência pública, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, apresentou a estrutura ministerial e reforçou que os 12 conselhos nacionais, a Comissão de Anistia e mais dois Comitês ligados ao Ministério estão em funcionamento. “Os conselhos e comissões estão parados? Não, isso não é verdade. Estamos no início de um novo governo e todos os nossos conselhos estão funcionando, o único conselho que não está em atividade é o de povos indígenas, que está parado há dois anos”, falou em relação aos conselhos de sua pasta.
A Ministra destacou ainda que cada Conselho “gasta em torno de 100 mil reais” por reunião ordinária, “sem contar as reuniões extraordinárias”. “O Ministério reconhece a importância da sociedade civil e a importância dos conselhos. Os conselhos têm o seu papel e o Ministério está para acompanhar, então, em nosso ministério não se sustenta a afirmação de que os nossos conselhos estão parados”, finalizou.
Participação social é democracia
Em sua apresentação, a procuradora federal dos Direitos dos Cidadãos e vice-presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos, Deborah Duprat, resgatou o sentido constitucional dos Conselhos, Comitês e Comissões no Poder Executivo . A partir da Constituição de 88, a ideia de Direitos Humanos passa a ser uma categoria para orientar as políticas de Estado e de limite da atuação das políticas de Estado. “Isso significa que as políticas de Estado são orientadas pelos próprios sujeitos implicados e é por isso que vemos tantos conselhos, porque eles vão nortear as políticas públicas e vão ser, por outro lado, agentes de controle dessas políticas. Isso vai configurar a ideia de democracia na Constituição de 88, que não é só o exercício formal do voto”, destacou a Procuradora no início de sua fala.
Para Deborah Duprat, a Medida Provisória 870 que extinguiu o Consea – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional foi recebida com surpresa. “O Consea é fruto de uma análise de que a fome no Brasil era um fenômeno heterogêneo, resultado de múltiplas causas, e, portanto era importante que viessem vários olhares para permitir ao Governo a compreensão da fome no Brasil nas suas diversas áreas, diversos grupos. O Consea é reconhecido mundialmente, porque através desse mecanismo o Brasil conseguiu sair pela primeira vez, em 2014, do Mapa Mundial da Fome”, apontou a Procuradora, que enumerou ainda outras situações desencadeadas pelo atual Governo em relação aos conselhos, comissões e comitês que causaram estranhamento da PFDC, como a nomeação de militares para a Comissão de Anistia e a não nomeação dos peritos do Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura, entre outros.
Alimentação como direito humano
Representante do Consea na audiência pública, a secretária geral da FIAN Brasil, Valéria Burity, destacou a importância do conselho para a sociedade brasileira, explicou a estrutura do Sisan, da qual o Consea fazia parte. “O Conselho era o elemento do Sisan que garantia a participação social. Quando se extingue o elemento do sistema que é responsável pela participação social, você está tirando toda e qualquer possibilidade de haver participação popular nessa política, por isso vemos com grande preocupação a extinção do Consea”.
A visão do Consea sobre o conceito de alimentação foi apontado por Burity em sua apresentação. “O Consea defende a alimentação como direito. Quando defendemos isso estamos dizendo que as pessoas que não podem comprar seu alimento tem que receber; quem pode comprar tem que comprar um alimento seguro, saudável que não provoque violações de direitos no processo alimentar, ou seja, que a gente tem que produzir, consumir, comercializar e aproveitar esses alimentos sem provocar novas violações de direitos humanos”.
Para Valéria Burity “no Brasil e no mundo existe um consenso de que a forma como produzimos e consumimos alimentos está impactando o meio ambiente, provocando aquecimento global, disputando de terra, fazendo uso excessivo de água e, ainda assim, não superamos a fome e temos o aumento de sobrepeso e obesidade. Hoje é preciso parar e repensar essa forma de produção e consumo e o Consea trazia reflexões valorosas sobre essa forma de produzir e consumir alimentos”.
Em sua apresentação, Valéria Burity destacou alguns pontos preocupantes com a extinção do Consea:
negação da experiência brasileira, modelo para outros países que seguiram modelos semelhantes de políticas de Segurança Alimentar e Nutricional;
fragilidade na forma de organização da política de segurança, que agora passa a ser de responsabilidade de uma única Secretaria, quando anteriormente era de responsabilidade de um conjunto de órgãos públicos, o que representa um retrocesso na concepção da SAN;
violação não apenas no Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas, mas uma violação ao direito à participação social.
Também participaram da audiência pública, a representante do Conselho Nacional de Saúde, Priscilla Viégas, a representante do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de LGBTs, Danielle Brígida, o representante do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, Luís Gustavo Magnata.
Democracia limitada
A fala da Ministra Damares, direcionada, para a perda orçamentária gerada com os Conselhos, atraiu a atenção da base governista que aproveitou o ensejo para criminalizar a participação e o controle social, alegando que esses espaços desperdiçam recursos públicos. Muitos parlamentares se equivocaram com o conceito de direitos humanos, participação social e democracia, outros compararam a participação social ao direito e exercício do voto como mecanismo garantidor de representação popular.
“Os conselhos são antes de tudo legais, estão previstos na Constituição. Em uma leitura atenta à Constituição da para ver o quanto que essa nossa Carta Política faz menção ao direito de participação, que não se limita à atuação no Congresso, não se limita ao direito de votar. Uma concepção de democracia limitada ao direito de voto e atuação dos parlamentares é uma concepção absolutamente estreita de democracia e de participação”, enfatizou Valéria Burity, em resposta aos parlamentares.
A audiência pública foi proposta pelos deputados federais Patrus Ananias (PT/MG) e Nilto Tatto (PT/SP).
25 de abril
Uma audiência pública acerca dos impactos da Medida Provisória nº 870/2019 sobre os Direitos Humanos à Alimentação será realizada no dia 25 de abril, às 9h30, no Plenário 9, da Câmara dos Deputados.
Revogação
Um dia depois da audiência pública que debateu a importância da participação social na implementação e monitoramento de políticas públicas, o presidente Jair Bolsonaro, anunciou nesta quinta-feira, 11 de abril, a revogação do Decreto nº 8.243, de 2014, que institui a Política Nacional de Participação Social – PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS.