Durante o IX Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional, realizado no dia 13 de novembro, a Fian Brasil lançou o Informe Dhana 2019: autoritarismo, negação de direitos e fome. O Fórum que teve como tema “Ambientes alimentares saudáveis: direitos de todos/as e dever de cada um” aconteceu no Centro Universitário Uninovafapi em Teresina (PI).
O Informe Dhana 2019, elaborado em parceria com o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, registra e denuncia as diferentes ações e omissões que retiram do povo brasileiro a possibilidade de produzir e consumir alimentos adequados, saudáveis e sustentáveis.
A mesa de lançamento do Informe Dhana contou com a participação do reitor Dr. Carlos Alberto Pinto; da coordenadora do Curso de Nutrição, Sheila Vasconcelos; da coordenadora do Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional, Norma Sueli Alberto; do jornalista do Joio e o Trigo, Guilherme Zocchio; do presidente do Conselho Regional de Nutricionistas (6a. Região), Dr. José Hilário, entre outras representações.
A publicação foi apresentada pela secretária geral da Fian Brasil, Valéria Burity. A publicação analisa criticamente as duas dimensões do Dhana: o direito de não sofrer fome e o direito de produzir e consumir alimentos de forma sustentável e saudável, os retrocessos nas áreas de proteção social e combate à fome, de produção e consumo de alimentos sustentáveis.
O Fórum é organizado pelo Grupo de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – GPSSAN liderado pela professora Ma. Norma Alberto e segue em sua nona edição contando com exposições, cursos, oficinas, feira agroecológica, palestras e roda de conversa.
A partir de 2003 o governo federal adotou uma política de segurança alimentar e nutricional como carro chefe de suas ações. Apesar das contradições desse período, foram adotados marcos legais e institucionais para a realização do direito à alimentação e foram criados, de maneira participativa, programas como o Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa um milhão de cisternas. Essas medidas, aliadas, a outros fatores, permitiram que o Brasil avançasse em alguns indicadores relacionados à pobreza, à desnutrição e à mortalidade infantil. Por essa razão o país se tornou uma referência em políticas de segurança alimentar e nutricional em todo o mundo.
Em 2019, a Fian Brasil em parceria com o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, dando continuidade ao relatório de 2017, apresenta o Informe sobre o Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas 2019: autoritarismo, negação de direitos e fome, lançado no dia 5 de novembro, em audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília.
O Informe é escrito num momento em que, segundo o Estado de Segurança Alimentar e Nutricional do Mundo (SOFI), o número de pessoas que enfrentam a fome no mundo aumentou, já são cerca de 821 milhões de pessoas em todo o mundo. Com a nova inclusão do indicador FIES (Food Insecurity Experience Scale) e uma avaliação da insegurança alimentar moderada, temos números ainda maiores que indicam que aproximadamente 2 bilhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar, numa escala global. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em agosto deste ano, revela como os sistemas alimentares hegemônicos são responsáveis por gases de efeito estufa e o impacto que o aquecimento global pode ter sobre a segurança alimentar, afetando especialmente países de clima tropical.
O também recente informe da Lancet, seguindo a mesma linha de argumentos, registra que atualmente os sistemas alimentares são responsáveis pelo que especialistas estão considerando como uma “Sindemia Global” a sinergia de três pandemias: obesidade, desnutrição e mudanças climáticas e que estes sistemas geram desigualdades, em muitos casos expulsam de suas terras, em todo o mundo, milhões de pessoas que produzem alimentos diversificados para a própria subsistência ou para o mercado, tornando assim nossa alimentação cada vez mais monótona e menos saudável.
Esses dados são preocupantes, especialmente se considerarmos o contexto global de regressão dos direitos humanos e o crescimento do poder corporativo, bem como do autoritarismo governamental, em diversas partes do mundo, fenômenos que representam grave ameaça e lesões concretas ao Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas (DHANA), em todo mundo.
O Brasil segue este fluxo, assistimos ao crescimento do autoritarismo e do neoliberalismo e seu nefasto impacto sobre a democracia, sobre os sistemas alimentares e sobre o direito à alimentação. Quando a economia, prevalece sobre direitos, a vida de muitas pessoas está em ameaça.
O Informe DHANA 2019 registra e denuncia as diferentes ações e omissões que retiram do povo brasileiro a possibilidade de produzir e consumir alimentos adequados, saudáveis e sustentáveis. A publicação analisa criticamente as duas dimensões do Dhana: o direito de não sofrer fome e o direito de produzir e consumir alimentos de forma sustentável e saudável, os retrocessos nas áreas de proteção social e combate à fome, de produção e consumo de alimentos sustentáveis.
A publicação apresenta um olhar para a grave crise que se passa no país, desde a perspectiva do Dhana e da soberania alimentar.
“No Brasil estamos cada vez mais caminhando para sistemas alimentares insustentáveis e que não alimentam. Um exemplo disso, é que entre 60% e 70% das compras de uma família são produzidas por dez grandes empresas, entre elas: Unilever, Nestlé, Procter e Gamble, Kraft e Coca-Cola, o que leva a uma alimentação cada vez mais monótona e ultra processada, associada à perda da biodiversidade e aumento de doenças crônicas, simultaneamente”, destacou durante o lançamento, Mariana Santarelli, uma das pesquisadoras responsáveis pela elaboração do Informe e que é relatora especial de Direitos Humanos da Plataforma Dhesca.
Pobreza e desigualdade
Para Francisco Menezes, representante do Fbssan – Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e consultor da Action Aid Brasil, o Informe denuncia também o falso conceito de que na economia só exista uma verdade, um único modelo possível, que é o neoliberalismo. “A crise que acontece no mundo desde 2008 mostra como o receituário desse modelo neoliberal está, inclusive, fazendo com que tenhamos a crise econômica mais longa da história. A parte do relatório que trata sobre economia é muito importante, principalmente porque o aspecto econômico incide muito no direito humano à alimentação”.
Na apresentação, Menezes destacou que os dados de 2018 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua/IBGE), mostram uma trajetória preocupante de crescimento da pobreza e mais ainda da extrema pobreza. “Em 2015 existia uma aplicação de políticas incorretas, mas existia também uma crise política que impedia o governo de governar e, a partir disso tivemos o crescimento da pobreza e extrema pobreza de forma bastante acelerada e é impressionante que até agora não existam quaisquer políticas de reversão dessa tendência. Em quatro anos a pobreza voltou ao nível de 8 anos atrás e a extrema pobreza ao nível de 13, já a desigualdade voltou ao nível de 10 anos atrás, pela renda monetária”.
Autoritarismo e retirada de direitos
“O neoliberalismo, mais do que uma política econômica, é uma racionalidade política que impõe a lógica da livre concorrência e da empresa como única forma de organização possível, essa racionalidade tem sido abraçada pelo Estado, que passa ele próprio a agir como empresa, que passa a privatizar e flexibilizar direitos. O neoliberalismo é um projeto que inverte o fardo da economia, permitindo concentração de renda e, portanto, mais desigualdade. Projetos que retiram direitos e ameaçam a vida não são aprovados se não por medidas autoritárias. No campo da Segurança Alimentar, a primeira Medida Provisória do Presidente já trazia a extinção do Consea e uma proposta para que as organizações não governamentais pudessem ser supervisionadas pelo governo. Embora esse último dispositivo tenha sido retirado da MP, no momento de sua conversão em lei, o que vemos é que a redução de espaços democráticos, não só o Consea, mas também outros conselhos, demonstram um caráter autoritário do Governo, porque a democracia não é representada só pelo voto, é representada também pelo espaço para conflitos, para visões plurais, para a criação e manutenção de direitos. O que temos assistido é que, em vez de reduzir desigualdades, a opção deste governo é de reduzir a democracia”, ressalta a Secretária-geral da FIAN Brasil, Valéria Burity.
Para aprocuradora federal dos Direitos dos Cidadãos, Deborah Duprat, as políticas de austeridade que começam com a crise de 2008 “já foram avaliadas no resto do mundo, principalmente na Europa. Vários estudos foram realizados mostrando que essas políticas também são políticas que vão ampliar as desigualdades e que impactam muito fortemente os direitos fundamentais, os direitos sociais. Nós então, aqui no Brasil, já tínhamos como antecipar, de alguma maneira, o que vinha se anunciando em termos de economia, e temos no Brasil um grande exemplo de como essas políticas de austeridade impactam nas políticas públicas, que é Emenda Constitucional 95 que reduz o investimento público por 20 anos, quando se reduz o investimento público não se leva adiante políticas de enfrentamento às desigualdades e aos cenários de fome”.
Extinção do Consea
A extinção do Consea e seus efeitos também foram destacados em diversas falas, entre elas a da ex-presidenta do Conselho, Elisabetta Recine. “Acabar com o Consea não é acabar com um espaço de participação social, é desestruturar todo um processo de fazer política pública, que longe de perfeito, construiu exemplos de uma outra forma de se fazer política pública, como a qualificação do PNAE, todas as modalidades do PAA, a estratégia intersetorial de controle da obesidade, são alguns exemplos construídos no âmbito do Consea que estamos perdendo”.
Representante da coordenação nacional do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Antônia Silva, falou sobre a importância da reforma agrária para a produção de alimentos saudáveis. “Esse governo é uma enxurrada de desgraças para nós, toda essa gravidade, como o aumento da fome, pode se agravar ainda mais quando chegarem os efeitos das mudanças que estão sendo feitas nesse país, como os efeitos da reforma da previdência, o fim da seguridade social, como a flexibilização de leis como bem o relatório mostrou, como o fim e paralisação de acesso à terra para quilombolas, indígenas, sem terra e todos os outros trabalhadores, como o fim da agricultura familiar anunciado pela Ministra. Esses tempos só vão passar com nossa força, com nossa capacidade de lutar”.
Presidida pelo Deputado Federal Leonardo Monteiro, a audiência pública de lançamento do Informe Dhana 2019 contou com a participação de outros parlamentares, entre eles: Luiza Erundina, Erika Kokay, Patrus Ananias, Airton Faleiros, Nilto Tatto. Os parlamentares ressaltaram a importância da publicação para subsidiar questões que envolvem a pauta na Câmara dos Deputados.
Lançamentos
Além do lançamento nacional, o informe foi lançado em São Paulo, na Assembléia Legislativa, no dia 31 de outubro. Os próximos lançamentos do Informe Dhana 2019 acontecem no dia 13 de novembro em Teresina (PI) e no dia 20 de novembro em João Pessoa (PB). O Informe Dhana 2019 é uma iniciativa da FIAN Brasil, em parceria com o FBSSAN – Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, e com o apoio de Pão Para o Mundo (PPM), Misereor e Heks/Eper.
Caso foi apresentado ao Sistema Interamericano de Direitos
Humanos (OEA), e pede a condenação do Brasil por falha sistemática na
fiscalização e reparação aos atingidos.
Entidades pedem que o Brasil seja condenado pelas violações ao direito à vida, às garantias processuais e à proteção judicial, à liberdade de associação, ao direito à propriedade privada e coletiva, à igualdade perante a lei e ao direito a uma vida digna, segundo o disposto na Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
Quatro anos após o rompimento da barragem de rejeitos da Samarco, em
Mariana, entidades e movimentos ingressaram com um caso perante a
Comissão e Corte Interamericana de Direitos Humanos (OEA). O objetivo é a
condenação do Estado Brasileiro pelas violações de direitos humanos
cometidas ao longo da Bacia do Rio Doce. A iniciativa inédita foi uma
articulação do Centro de Direitos Humanos e Empresas (HOMA – UFJF), FIAN
Brasil, Grupo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (GEPSA), Justiça
Global, Movimento dos Atingidos e Atingidas por Barragens (MAB), e
Núcleo de Direitos Humanos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
As entidades pedem a condenação do Estado Brasileiro em medidas de
não repetição, em medidas reparatórias direcionadas à população atingida
pelo rompimento da barragem de Fundão e também ao meio ambiente.
Passados quatro anos desde o desastre, poucas medidas de reparação
foram efetivamente tomadas para reparar os direitos violados da
população que habita a bacia do Rio Doce. O rompimento de uma nova
barragem de rejeitos da Vale, em Brumadinho, também demonstra de maneira
evidente que o Estado Brasileiro tem falhado no seu dever de
fiscalização.
Raphaela Lopes, advogada da Justiça Global, aponta que o Estado
Brasileiro tem responsabilidade direta no rompimento da barragem da
Samarco, controlada pelas mineradoras Vale e BHP. “A responsabilização
do Estado em relação ao rompimento da barragem de Fundão surge a partir
de dois fundamentos. O primeiro diz respeito às medidas que não foram
tomadas devidamente para prevenir que o desastre acontecesse. Isso tem a
ver com o próprio licenciamento da barragem de rejeitos, que não foi
feito de modo diligente, e também com o processo de monitoramento do
funcionamento dessa barragem. O segundo fundamento decorre da falha
sistemática do Estado em reparar os danos oriundo do rompimento da
barragem de Fundão”, afirma Raphaela.
A petição apresenta uma série de violações que ainda hoje persistem ao longo da Bacia do Rio Doce. Famílias atingidas ainda não foram reassentadas, relatos de tratamento diferenciado entre atingidos – em especial em relação às mulheres, que sofrem discriminação nos processos decisórios e no acesso à reparação -, grande incerteza com relação à qualidade da agua, o que prejudica tanto o consumo da água em cidades ao longo da Bacia do Rio Doce, quanto a pesca e as lavouras que dependem do abastecimento do rio, são algumas das violações citadas no documento.
“O Estado Brasileiro tem sido negligente com suas obrigações tanto de
assegurar a proteção social como ambiental no caso das barragens de
rejeitos, e frente a isso estamos vivendo tristes cenários. Passados 4
anos, vivenciamos a completa falência do sistema judicial na reparação
aos danos causados pelo rompimento da barragem de rejeitos de Fundão,
sem a efetivação de garantias de acesso à justiça das famílias
atingidas. Esperamos que a Corte possa analisar essa caso, tão
emblemático para a história brasileira, mas também para toda a realidade
da mineração na América Latina. As comunidades atingidas depositam
muita esperança no sistema interamericano para acessar seus direitos, na
data de hoje”, afirma Tchenna Maso, da Coordenação Nacional do MAB.
As entidades pedem que o Brasil seja condenado pelas violações ao
direito à vida, às garantias processuais e à proteção judicial, à
liberdade de associação, ao direito à propriedade privada e coletiva, à
igualdade perante a lei e ao direito a uma vida digna, segundo o
disposto na Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
“Esperamos que venha a condenação do Brasil ao final desse processo, e
que a Corte imponha sanções ao Estado. Além das medidas de reparação,
há as chamadas medidas de não repetição, que podem incluir inclusive
alterações legislativas, além da necessidade de o país avançar em uma
política de reparação a atingidos por grandes desastres socioambientais,
como foi o caso de Fundão”, aponta Raphaela.
Para as entidades, o ingresso deste caso perante o Sistema Interamericano também se relaciona com o desmonte da política ambiental brasileira e seus órgãos de proteção. “O óleo que se alastra pelas praias do Nordeste, as queimadas na Amazônia e no Pantanal, o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho, todos esses episódios não são acidentais, são produto de uma escolha política deliberada que inclui a flexibilização da legislação e a fragilização orçamentária e institucional dos órgãos ambientais”, salienta Melisanda Trentin, coordenadora da Justiça Global. “Esperamos que esse caso possa fortalecer os movimentos sociais, os povos e populações atingidas que lutam contra esses retrocessos na seara ambiental”, finaliza Raphaela.
O Informe DHANA 2019, elaborado em parceria com o Fórum Brasileiro de
Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, apresenta um olhar para a grave
crise que se passa no país, desde a perspectiva do Direito Humano à Alimentação
e à Nutrição Adequadas (DHANA) e da soberania alimentar.
No Informe foram analisados criticamente as duas dimensões do DHANA: o
direito de não sofrer fome e do direito de produzir e consumir alimentos de
forma sustentável e saudável os retrocessos nas áreas de proteção social e
combate à fome, de produção e consumo de alimentos sustentáveis.
A publicação é dividida em quatro capítulos: O que é o direito humano à alimentação e à nutrição adequadas? ; Contexto econômico e político e a (não) realização do Dhana no Brasil; Retrocesso na realização do direito humano à alimentação e à nutrição adequadas, e da soberania e segurança alimentar e nutricional, em tempos de autoritarismo e crise da democracia e Análise das ações governamentais e violações das obrigações do Estado para a garantia do Dhana no Brasil.
O Informe DHANA 2019 é uma iniciativa da FIAN Brasil, em parceria com o FBSSAN – Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, e com o apoio de Pão Para o Mundo (PPM), MISEREOR e HEKS.
Animação em vídeo busca alertar população sobre o novo campo de incidência do mercado do agronegócio
As grandes corporações do mercado de commodities têm apostado,
no último período, no desenvolvimento de novas
biotecnologias agrícolas. A incidência, além de ampliar o dependência de
agricultores ao concentrado mercado de insumos químicos e sementes e o
controle do mercado por corporações, localiza o país em um cenário de
insegurança alimentar e de ameaça à agrobiodiversidade.
O país que possui consumo recorde de agrotóxicos, já conta com 90
plantas transgênicas liberadas comercialmente no país – destas 70
modificadas para tolerar algum agrotóxico, e avança na implementação de
biotecnologias de alto risco.
Sem garantir a participação popular e o amplo debate público, a
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou, em janeiro
de 2018, a Resolução Normativa (RN) 16/2018, que estabelece requisitos
para a definição de novas biotecnologias com engenharia genética que
diferem das técnicas utilizadas em transgênicos. Com a nova normativa, a
CTNBio pode decidir que os organismos produzidos com o uso dessas
biotecnologias não se classificam como transgênicos ou organismos
geneticamente modificados (OGMs), e assim podem ser dispensadas de
avaliações de risco, sem monitoramento e sem rotulagem.
Essa normativa torna o Brasil um dos primeiros países do mundo a
possibilitar pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização deste
tipo de tecnologia – um campo de ampla incerteza e que soa como grande
alerta aos camponeses, organizações sociais e movimentos populares que
atuam na defesa da saúde, meio ambiente e soberania alimentar.
O que são os gene drives?
Uma das formas de biotecnologia mencionadas na Resolução é a condução genética ou redirecionamento genético (gene drives). Os gene drives
ou impulsores genéticos são formas de edição ou manipulação genética de
seres vivos. São formas mais perigosas dos transgênicos, que editam as
características genéticas, sem necessariamente incluir um gene novo, mas
manipulando os genes já existentes nos seres vivos. Isto é, uma
microcirurgia nas informações genéticas de seres vivos.
A técnica utiliza enzimas que “cortam e colam” (como a CrisPR/Cas9)
genes de seres com reprodução sexuada – a exemplo de plantas como o
milho e mosquitos – sem necessariamente introduzir genes de outros
organismos ou sintéticos.
Essas mudanças alteram as funções originais das plantas e tem o poder
de transmitir suas características modificadas para a integralidade de
seus descendentes e assim conseguiriam transformar uma espécie inteira,
editando genomas para que as características modificadas prevaleçam
integralmente para todos os descendentes. Desta forma, a prática pode
ter efeitos irreversíveis ou incontroláveis e, inclusive, podem
exterminar toda uma espécie.
Também se pode avançar nas tecnologias prometidas aos transgênicos,
como a tolerância aos agrotóxicos, a época ou período de frutificação ou
germinação e adaptação da espécie para o grande maquinário
agroindustrial.
Posicionamento internacional
Há duas frentes majoritárias no posicionamento dos países em relação a
novas biotecnologias. A primeira diz respeito a não possibilitar a
aplicação tendo em vista as incertezas que a prática ainda suscita. A
segunda, adotada pelo Brasil, permite a utilização das novas
biotecnologias com a atenção ao princípio da precaução previsto no
Protocolo de Cartagena .
Durante a 14ª Conferência das Partes da Convenção da Diversidade
Biológica (COP 14) realizada em dezembro de 2018 os movimentos sociais e
organizações da sociedade civil presentes, bem como o Egito, Tailândia,
Bolívia e El Salvador se posicionaram pela abstenção da utilização dos condutores genéticos enquanto houver incertezas nas pesquisas sobre os riscos.
Já o Brasil, os países africanos, a Nova Zelândia, Malásia, Índia,
Indonésia, Argentina, Peru, Canadá, Panamá e Suíça sustentaram a posição
de utilização dessas novas tecnologias com precaução e análise caso a
caso, sendo esta a posição consolidada no documento oficial.
Previsto na Constituição Federal, o país possui o dever da proteção
ao meio ambiente, com garantia da adoção de medidas de cautela diante
de atividades impactantes ou cujos efeitos ainda são desconhecidos.
Vulnerável aos interesses de empresas que atacam o princípio da
precaução dizendo que seus defensores buscam certeza científica de risco
zero, a implementação de novas biotecnologias ou novas técnicas de
edição genética vulnerabiliza a sociedade aos interesses de empresas e
governos.
Animação
Elaborada pelo Grupo de Trabalho Biodiversidade da Articulação Nacional
de Agroecologia (ANA), coletivo que congrega diferentes organizações e
movimentos sociais, o material busca explicar, de forma didática, como a
nova biotecnologia se apresenta como uma ameaça ao meio ambiente, à
agrobiodiversidade e à sociedade.
O material pode ser utilizado em atividades formativas e provocações de debate público com diferentes públicos.
Ficha Técnica Título: Os Gene Drives e as novas manipulações genéticas na agricultura Gênero: animação Duração: 4 minutos Lançamento: Brasil, 2019 Classificação: Livre Realização: Grupo de Trabalho Biodiversidade – Articulação Nacional de Agroecologia e Terra de Direitos
O sociólogo português Boaventura de Sousa
Santos realizará no próximo sábado (26) a palestra da aula magna do
Programa de Doutorado em Direitos Humanos da Universidade de Brasília
(PPGDH/UnB) em evento que comemora também os 30 anos do movimento
“Direito Achado Na Rua”. Com tema “Da expansão judicial à decadência de
um modelo de Justiça”, o professor falará sobre contexto atual do
fenômeno de judicialização e de lawfare no país. Acontece no Centro
Cultural da ADUnB.
“Boaventura fala da expansão da Justiça,
porém dentro de um modelo que está como que esgotado. Repensa a Justiça,
a forma de organização e aquilo que se institucionaliza como poder
político. Ele fala da ação sindical, da ação mobilizadora, das formas e
estratégias de reivindicação de direitos que os protagonistas sociais
trazem para a agenda hoje com grande intensidade no mundo e na América
Latina. Tudo isso num quadro em que a Universidade está no epicentro”,
diz o professor José Geraldo de Sousa Junior (Faculdade de Direito/UnB),
um dos organizadores do evento.
No sábado, a aula magna contará ainda com o
lançamento da Revista do CEAM, periódico científico editado pelas
Programas de Pós-Graduação do Centro de Estudos Avançados
Multidisciplinares (CEAM/UnB). A Universidade comemorará ainda os 30
anos do “Direito achado na rua”, concepção teórica e movimento
político-teórico e sociológico-jurídico que hoje abrange o tripé da
universidade, de ensino, pesquisa e extensão para o diálogo com
movimentos sociais na área jurídica dos direitos humanos. É oferecido
como disciplina ao Programa do PPGDH, no CEAM/UnB, e certificado pela
plataforma do CNPq, como linha de pesquisa.
A palestra é realizada pelo PPGDH, pelo
“Direito Achado na Rua” e a ADUnB, com o apoio do Núcleo de Estudos para
a Paz e dos Direitos Humanos, do IESB Centro Universitário, do
Instituto de Ciências Humanas (UnB), da Organização pelo Direito Humano à
Alimentação e à Nutrição Adequadas (FIAN Brasil) e do CEAM/UnB.
Volta à ADUnB, PerifaTalk e debate na Câmara Legislativa
Em sua passagem por Brasília, Santos lança
vários livros e realiza palestras. Na quinta (24), faz debate com o
lançamento do livro “Esquerdas do mundo, uni-vos!”, às 18h30, no
auditório da Câmara Legislativa do DF. Ele falará sobre os possíveis
rumos da esquerda e os caminhos para uma luta unificada internacional,
em um panorama crítico pós-crise de 2008.
Na sexta (25), participa de debate na
terceira edição do evento PerifaTalk, em Ceilândia, com a apresentação
do poeta e happer GOG. No evento, que acontece às 19h na Praça do
Cidadão, o professor também lançará o livro Rap Global, da editora
Confraria do Vento.
No dia 28, a ADUnB recebe o professor em
sua última atividade no Distrito Federal. Ele participa do evento “As
epistemologias do sul e a refundação da democracia”, onde serão lançados
os livros “O fim do império cognitivo” (2019), “O Pluriverso dos
Direitos Humanos” (2019) e “Demodiversidade: Imaginar novas
possibilidades democráticas” (2018). Acontece às 19h, também no Centro
Cultural da ADUnB. A organização é do Instituto de Ciências Humanas da
UnB.
Serviço
Aula Magna do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania (PPGDH/UnB)
Comemoração 30 anos “Direito Achado Na Rua” e Lançamento da Revista CEAM
Centro Cultural da ADUnB, dia 26, sábado às 10 h
“Esquerda do mundo, uni-vos!”
Debate e lançamento do livro “Esquerdas do mundo, uni-vos!”, dia 24, às 18h30, no auditório da Câmara Legislativa do DF.
PerifaTalk com Boaventura
Lançamento do livro Rap Global e debate com a presença do poeta e happer GOG
Praça do Cidadão, dia 25 às 19h
As epistemologias do sul e a refundação da democracia
Lançamento dos livros “O fim do império
cognitivo” (2019), “O Pluriverso dos Direitos Humanos” (2019) e
“Demodiversidade: Imaginar novas possibilidades democráticas” (2018)
Centro Cultural da ADUnB, às 19h
Sobre Boaventura
Boaventura de Sousa Santos é professor
catedrático jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
e Distiguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de
Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warnick.
Diretor Emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e
Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça.
De 2011 a 2016, dirigiu o projeto de
investigação ALICE – Espelhos Estranhos, lições imprevistas: definindo
para a Europa um novo modo de partilhar experiências do mundo, um
projeto financiado pela ERC, um dos mais prestigiados e competitivos
financiamentos internacionais para a investigação científica. Seus
trabalhos encontram-se traduzidos para o espanhol, inglês, italiano,
francês, alemão, chinês e romeno.
Conflito explode no Norte de Minas: empresa Mantiqueira invade Território Tradicional
No dia 20 de outubro de 2019 a empresa Mantiqueira invadiu novamente o Território das Populações Tradicionais Geraizeiras no Vale das Cancelas. A comunidade mobilizou-se para impedir que a empresa implantasse os cabos das linhas de transmissão de energia elétrica.
A empresa Mantiqueira, grupo Brookfield, já tinha invadido a comunidade e implantado várias torres de transmissão de energia – LT 230 Kv Irapé – Araçuaí 2 C2 e SE 230/ 138 Kv Janaúba 3. Entretanto, sem considerar a comunidade, invadiu a área sem negociação, sem autorização judicial e violando o direito à consulta e ao Território garantidos em normas internacionais de direitos humanos.
Além das fragilidades do licenciamento ambiental, a empresa também violou a condicionante 2.11 da Licença de Instalação 1210/2018 publicada pelo IBAMA. A comunidade tentou um diálogo com a empresa Mantiqueira, mas ela continuou com a mesma postura: ignorar o território tradicional. A comunidade Buriti/São Lourenço, que pertence ao núcleo Tinguí, do Território Vale das Cancelas, município de Grão Mogol, Norte de Minas Gerais, fez diversas denúncias, mas os órgãos do Estado responsáveis para resolver o conflito nada fizeram.
Esperamos que agora o Estado possa agir pra evitar que o conflito se agrave e as famílias possam viver em paz. O clima de tensão é muito grande no local. As famílias estão mobilizadas e indignadas com a situação, que apesar das denúncias, nada é resolvido. Exigimos que as autoridades responsáveis tomem as devidas providências.
Grão Mogol, 21 de outubro de 2019.
Comunidades Tradicionais Geraizeiras do Vale das Cancelas
Cáritas Arquidiocesana de Montes Claros
Centro de Referência em Direitos Humanos – CRDH Norte
Comissão Pastoral da Terra
Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular
FIAN Brasil
Frente Parlamentar Mineira em Defesa dos Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais
Instituto DH: Promoção, Pesquisa e Intervenção em Direitos Humanos e Cidadania
Nesta segunda-feira (21/10), às 10 horas, acontece um debate interativo sobre o Observatório do Direito à Alimentação e à Nutrição 2019 , que este ano tem como tema “O poder das mulheres na luta pela soberania alimentar” .
Este webinar é organizado pela FIAN International em nome da Rede Global para o Direito à Alimentação e à Nutrição e é aberto ao público (inscrições abertas e gratuitas).
· Iridiani Graciele Seibert, Movimento de Mulheres Camponesas (Brasil) / La Vía Campesina
· Sílvia Ernestina Dywili , Fórum Mulher, Marcha Mundial das Mulheres Moçambique, Movfemme
· Célia Wandi Sapalo Sampaio, ADRA/Rede das Margaridas da CPLP
· Joana Rocha Dias, ACTUAR
· Nayara Côrtes Rocha, FIAN Brasil
· Victoria Medina, Rede das Margaridas da CPLP
Lançada em um contexto de crescente fome e crise ecológica, esta edição do Observatório aborda questões-chave que envolvem as relações de poder e expõe a violência estrutural que explora as mulheres e o meio ambiente. Neste webinar queremos discutir e refletir com você sobre os desafios e sobre como podemos avançar nestas temáticas. Dentre as painelistas, estão autoras desta edição do Observatório. Junte-se e discuta conosco!
Haverá outros seminários online em inglês (22/10) e espanhol (24/10).
A ACT Promoção da Saúde e a Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável participam de uma audiência pública no dia 17 de outubro, às 10h, no Plenário 7 da Câmara dos Deputados (Anexo II), com o objetivo de discutir o problema da obesidade e outras doenças relacionadas ao consumo excessivo de bebidas açucaradas e apresentar algumas alternativas, como a proibição da venda de refrigerantes nas escolas.
Entre os
especialistas, estarão a médica Laura Ohana Marques Coelho de Carvalho,
Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro; Rita de Cássia Frumento, do Conselho
Federal de Nutricionistas; Desirée Ruas, do Movimento BH pela Infância, Ana
Paula Bortoletto, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, e Paula Johns, da ACT.
A ACT
acredita que crianças e adolescentes têm prioridade absoluta no atendimento de
suas necessidades e que a escola exerce papel importante para a formação
de hábitos alimentares mais saudáveis, sendo, portanto, dever do Estado
protegê-los em relação à saúde e à alimentação. Por isso, apoia o projeto
de lei 1755/2007, que proíbe a venda de refrigerantes nas escolas de educação
básica. O projeto tem tramitação avançada e depende apenas dos líderes
partidários e do presidente da Câmara dos Deputados, deputado federal Rodrigo
Maia, para ser votado no plenário.
Para mais
informações, acesse:
Dados sobre obesidade
O consumo em excesso de bebidas açucaradas contribui para obesidade, diabetes, hipertensão e outras doenças cardiovasculares e câncer. Obesidade, hipertensão e cáries são doenças relacionadas ao seu consumo e aparecem já na infância. No Brasil, a proporção de açúcares adicionados em alimentos ultraprocessados vem crescendo. Em pouco mais de 20 anos (de 1987 a 2009), a participação dos açúcares de alimentos ultraprocessados na dieta do brasileiro passou de 18% para 36%. No caso dos refrigerantes, triplicou, passando de 5,6% para 15,5%.
Crianças
obesas têm mais chances de se tornarem adultos obesos, com doenças associadas,
como diabetes e hipertensão. Além dos custos diretos com as doenças precoces,
teremos custos indiretos relacionados à absenteísmo no trabalho e aposentadoria
precoce, além de problemas de concentração e qualidade da entrega do trabalho.
No
contexto atual de colapso ecológico e aumento da fome, as mulheres e todos
aqueles que buscam reimaginar os alimentos, o meio ambiente e as economias do
mundo são alvos de ataques cada vez mais violentos. Esta edição do Observatório do Direito à Alimentação e à Nutrição
é oportuna e necessária: os autores abordam questões-chave do poder e expõem a
violência estrutural que degrada as mulheres e o meio ambiente.
Paradoxalmente,
as mulheres representam a maior parte dos produtores de alimentos em todo o
mundo e, no entanto, são desproporcionalmente afetadas pela fome. Além disso, este
é um fato que, de forma ampla, não é reconhecido. Embora seja verdade que as
experiências das mulheres e o acesso a alimentos sejam moldados apenas por
sexo, mas também por raça, classe e orientação sexual, todas as mulheres são
afetadas pela violência. Em alguns lugares, elas são sub-representadas e excluídas
das políticas públicas, pesquisas e dados sobre os alimentos. Em outros casos,
o acesso a alimentos e a autonomia corporal das mulheres são limitados pelo
autoritarismo e conservadorismo religioso. Em todo o mundo, as mulheres são
exploradas e despojadas de suas terras e recursos.
No entanto, indo contra todas as probabilidades, como esta edição do Observatório mostra de forma abundante, as mulheres estão a organizar, mobilizar e exercitar a sua autonomia em todo o mundo. Nos campos do Mali e da Índia, as mulheres cultivam alimentos nutritivos de maneira social e ambientalmente justa. Nas ruas do Brasil, elas se manifestam contra a violência do agronegócio, graças à Marcha das Margaridas. As mulheres que migram da América Central para a América do Norte estão a encarar as suas adversidades, enquanto em Jinwar, no Norte da Síria, elas estão construindo uma nova sociedade e cultivando alimentos de forma coletiva. No nível global, as mulheres estão a influenciar a tomada de decisões internacionais no Comitê de Segurança Alimentar Mundial da ONU.
Esta
edição é o resultado de um processo de reflexão coletiva impulsionado por
mulheres. Aqui, as autoras instam os movimentos alimentares e feministas, que
são tão diversos quanto suas lutas e origens políticas, a construir alianças e
participar da discussão para promover os direitos das mulheres, incluindo jovens,
adolescentes e meninas. Sua missão é criar sistemas alimentares justos.
Diante
de múltiplas crises, o poder da resistência individual e coletiva das mulheres
para liderar o caminho na direção de melhores relações sociais e ecológicas não
pode ser subestimado.