Com evento comemorativo, FIAN Brasil abre programação dos 25 anos relembrando trajetória e de olho no futuro

Participantes celebraram os aprendizados da trajetória em defesa do direito à alimentação, fortaleceram alianças e se inspiraram para ações rumo a uma sociedade justa e equitativa

Setenta e cinco corações e mentes pulsando juntos, dois dias de reflexão e um de ação, um quarto de século a relembrar, quatro anos de estratégia a refinar. Para além dos números, o seminário que celebrou o 25º aniversário da FIAN Brasil inaugurou o ano comemorativo e afirmou para o mundo a intenção inscrita no mote do evento: semear direitos e cultivar futuros.

No evento em Brasília, Conselho Diretor e Secretaria Executiva receberam antigas/os e novas/os integrantes da Membresia, representantes das comunidades apoiadas e outros companheiros e companheiras para celebrar os aprendizados da trajetória em defesa do direito humano à alimentação e à nutrição adequadas (Dhana), fortalecer alianças e inspirar ações para uma sociedade justa e equitativa, livre de violações ao direito de se alimentar. As atividades foram realizadas no Instituto São Boaventura de 25 a 27 de agosto.

Toda a programação foi pensada em alinhamento ao Planejamento Estratégico Participativo (PEP) da FIAN Brasil (2025-2028) para cumprimento da missão institucional: contribuir para um mundo livre da fome e da desnutrição, no qual cada pessoa possa desfrutar plenamente dos seus direitos humanos, em particular o Dhana, com dignidade e autodeterminação.

Confira fotos e vídeos do evento no nosso Instagram. Em breve – e ao longo dos próximos 11 meses – publicaremos mais material audiovisual de memória e debate aqui.

Inspiração

Mesa de abertura do seminário de 25 anos. Foto: Augusto Coelho/Arquivo FIAN Brasil

Na mesa de abertura, a vice-presidenta da FIAN Internacional, Juana Camacho, elogiou o fortalecimento institucional da seção brasileira e o trabalho com políticas públicas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), além de estudos de caso. “Vocês têm iniciativas inovadoras que inspiraram diversas outras seções”, disse.

Camacho destacou também a documentação de violações de direitos encaminhada conjuntamente a instâncias do Sistema Internacional de Justiça e a denúncia das iniquidades no acesso à alimentação adequada. Ela defendeu a necessidade de as organizações adotarem a perspectiva da equidade em sua composição. Como temática, ressaltou a importância do enfrentamento da captura corporativa, com atenção aos abusos cometidos pelo agronegócio. “Casos como os de Brumadinho e Matopiba são relevantes para uma regulamentação internacional mais justa, que responsabilize quem lucra com as violações de direitos humanos e ambientais e diminua a impunidade das corporações, em especial as transacionais”, pontuou.

Com o mote “Raízes que nutrem, frutos que inspiram”, o momento consistiu em reflexões sobre os 25 anos com parceiros e sujeitos de direito de territórios que contam ou contaram com nosso apoio. Eles e elas lembraram contribuições da FIAN para a luta na ponta, por meio de pesquisas, publicações, incidências nas instâncias do Estado e formações.

Participaram José Carlos de Oliveira Neto, o Véio, da comunidade do Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais; Adair Pereira, o Nenzão, do Território Tradicional Geraizeiro do Vale das Cancelas, também em MG; Adelina Fidelis Ramos, da comunidade de Belém do Solimões, no Amazonas; e Sally Nhandeva, da Retomada Aty Jovem (RAJ), do Mato Grosso do Sul. Outro depoimento sobre a atuação no MS veio de Matias Rempel, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

A presidenta da FIAN Brasil, Mariza Rios, e o secretário-geral Pedro Vasconcelos completaram a mesa, apresentada pela assessora de Políticas Públicas Luana Cunha. Coube à vice-presidenta, Norma Alberto, a leitura de mensagem da presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Elisabetta Recine.  

Um depoimento gravado pelo ex-secretário-geral da FIAN Internacional Flavio Valente deu início à sessão de homenagens. Em nome da entidade, o diretor de Formação da FIAN Brasil, Irio Conti, entregou certificados a pessoas que contribuíram com a luta pela alimentação adequada nesses 25 anos.

Caminhos
Em seguida, o painel “Caminhos para a sustentabilidade social, jurídica e ecológica do Dhana” abordou os desafios e oportunidades atuais para a incidência política por esse direito fundamental.

Falaram o pesquisador Anastácio Rendyju, da Terra Indígena Panambizinho, do MS; a secretária extraordinária de Combate à Fome e à Pobreza do governo federal, Valéria Burity; a diretora de Articulação da FIAN Brasil, Míriam Balestro, e o deputado estadual Marquito (PSOL), de Santa Catarina. O debate teve a mediação do assessor de Direitos Humanos Adelar Cupsinski.

À tarde, oficinas temáticas aprofundaram temas que atravessam os objetivos do Planejamento Estratégico Participativo: “Terra, água, território e diversidade dos povos”, “Políticas públicas e Sisan”, “Exigibilidade do Dhana e instrumentos jurídicos” e “Agroecologia e justiça climática, ambiental e alimentar”. Os relatos das discussões foram compartilhados na plenária e serão sistematizados.

“Foi emocionante estar com pessoas importantes para nossa história, foi inspirador ouvir nossos parceiros – especialmente aqueles e aquelas que lutam nos territórios – e foi revigorante ver renovada nossa membresia, nosso corpo político e formulador ampliado”, diz o secretário-geral Pedro Vasconcelos. “As falas nos painéis e as discussões nas oficinas temáticas trouxeram elementos que enriquecerão nossa atuação conjunta e nosso atual planejamento estratégico, que vai deste ano a 2028. Além da fundamental celebração, ao pensarmos o encontro tínhamos em mente esse adensamento reflexivo e político.”

Ato público
No terceiro dia (27), a organização realizou um ato público pelo direito à alimentação e à nutrição adequadas no Instituto No Setor, na área central da capital federal.

Com o objetivo de mostrar o trabalho da FIAN à sociedade, gerar visibilidade e mobilizar apoio ao Dhana, o evento contou animação de participantes do projeto Na Encruza, testemunhos de pessoas em situação de rua e falas políticas.

.Foram distribuídas refeições produzidas por famílias agricultoras do Distrito Federal (DF) e as pessoas puderam votar pela taxação dos super-ricos e pelo fim da escala de trabalho 6×1, no Plebiscito Popular Por um Brasil Mais Justo e Soberano, que prorrogou a votação (também possível online) até este mês.

“Foram momentos intensos de troca, comemoração, memória e projetos futuros”, conta a presidenta Mariza Rios. “Os testemunhos dos sujeitos de direitos e outros parceiros de caminhada confirmam que nossa atuação firme no que se refere à garantia do direito humano à alimentação e à nutrição adequadas, o Dhana, tem resultado em contribuições de grande valor para a causa. Os debates e as reflexões conjuntas também mostram que podemos e devemos avançar em novos desafios. Que venham mais 25 anos!”