‘Menos fumo, mais comida no prato’ é tema do podcast Ciência Suja

Secretária-geral da FIAN Brasil, Nayara Côrtes, falou sobre os impactos da indústria de alimentos na promoção da alimentação saudável e saúde da população

“Se cada 10% dos hectares que produzem folhas de tabaco produzissem vegetais diversos, poderíamos ter um acréscimo de 857,2 mil toneladas de vegetais. Seria trocar um produto que causa doenças, mortes e impacto no meio ambiente, como o cigarro, por comida de verdade e oferecer à população uma melhor qualidade de vida”.

A reflexão conduz a narrativa do 4º episódio do podcast Ciência Suja, ‘Menos fumo, mais comida no campo’, lançado recentemente para falar sobre a importância de priorizar o cultivo de alimentos e não o de culturas como o tabaco.

Dividindo participação com o economista Valter Palmieri Júnior (Comida e Economia) e o engenheiro Marcelo Moreno (Fiocruz), a nutricionista e secretária-geral da FIAN Brasil, Nayara Côrtes, falou sobre a importância de políticas públicas que promovam maior tributação de produtos agropecuários como agrotóxicos e fertilizantes e que fortaleçam a agricultura familiar e a promoção da agroecologia.

“A indústria de produtos ultraprocessados atua de uma forma muito parecida com a indústria do tabaco. Ambas usam o discurso da liberdade de escolha, ou a afirmação de que não há evidências sobre prejuízos à alimentação das pessoas, sendo que há diversos estudos que comprovam o quanto os ultraprocessados são um problema, principalmente quando pensamos nas políticas públicas de alimentação, nutrição e nos impactos à saúde global”, afirmou a secretária-geral.

Para ela, “a discussão da reforma tributária é fundamental para que a população acesse alimentos de qualidade. Produtos ultraprocessados, como refrigerantes e salgadinhos, estão disponíveis em todos os lugares, são infinitamente mais baratos e não produzem saúde. Ao contrário, estão diretamente relacionados com o aumento de doenças crônicas não transmissíveis na população e na redução da qualidade e do tempo de vida das pessoas”.

Ao reivindicar a criação do imposto seletivo sobre bens e serviços prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, maior tributação de agrotóxicos e do plantio de culturas como o tabaco, Côrtes evidenciou que sem a reforma tributária o Brasil continuará abrindo espaço para que produtos alimentícios que fazem mal à saúde fiquem cada vez mais baratos e acessíveis.

“A indústria de refrigerantes recebe subsídios do governo para produzir produtos que irão causar mal à saúde das pessoas. Os custos desse prejuízo voltam para o Estado, para o SUS [Sistema Único de Saúde], em forma de doenças crônicas decorrentes do consumo de ultraprocessados”, explicou Côrtes.

A secretária-geral defende que, além do imposto seletivo para a indústria de ultraprocessados, é importante prever alíquota zero para alimentos saudáveis, “o que beneficia o acesso da população à alimentação adequada e melhorias na renda do produtor familiar”, finaliza.

Apresentado por Theo Ruprecht, o 4º episódio do podcast Ciência Suja, ‘Menos fumo, mais comida no campo’, teve apoio da ACT Promoção da Saúde e está disponível nas plataformas digitais. Você também pode conferir em bit.ly/mesacast4.

FIAN Brasil

ACT Promoção da Saúde defende maior tributação de produtos nocivos à saúde

Nota técnica menciona o tabaco, bebidas alcoólicas e produtos ultraprocessados

O debate da reforma tributária deve priorizar a promoção da saúde, contribuindo para a construção de um Brasil mais saudável. Essa é a recomendação da ACT Promoção da Saúde, que acaba de lançar a nota técnica “Por uma Reforma Tributária a favor da saúde”, em que apresenta argumentos e dados em defesa da devida tributação produtos de tabaco, bebidas alcoólicas e alimentos ultraprocessados, produtos nocivos à saúde e que geram custos bilionários aos cofres públicos. Clique aqui para baixar a versão completa – ou clique aqui para acessar o resumo executivo. 

A publicação reúne recomendações para que a reforma tributária promova saúde e bem-estar e previna doenças e mortes evitáveis. Para desincentivar o consumo de produtos nocivos à saúde, a nota técnica recomenda que a reforma elimine subsídios fiscais e institua tributos específicos sobre produtos de tabaco, bebidas e alimentos ultraprocessados, e bebidas alcoólicas, e que os recursos arrecadados com essa tributação sejam destinados ao Sistema Único de Saúde. Outra recomendação é que a reforma tributária preveja estímulos fiscais para aumentar a oferta e disponibilidade de alimentos saudáveis – como frutas, verduras, legumes e grãos, e também crie tributos sobre produtos que causam danos ao meio ambiente – como agrotóxicos e combustíveis fósseis. Junto a outras organizações da sociedade civil, a ACT Promoção da Saúde também defende a Reforma Tributária 3S: Saudável, Sustentável e Solidária, que leve em conta aspectos de promoção da saúde, proteção ambiental e enfrentamento às desigualdades sociais.

Por meio da apresentação de um panorama nacional e internacional, com a sistematização de dados de pesquisas científicas e relatórios globais, o documento demonstra que tabaco, ultraprocessados e bebidas alcoólicas geram um grande ônus para o país, tanto econômico como social. E situa a reforma tributária como oportunidade de corrigir distorções graves e arrecadar mais recursos para o Estado, elevando o preço final de produtos nocivos à saúde, desestimulando seu consumo e promovendo mais saúde.

Veja alguns destaques:

No caso do tabaco, os custos anuais dos danos produzidos pelo cigarro alcançam R$ 50 bilhões para o sistema de saúde e somam R$ 42 bilhões em perda de produtividade, totalizando R$ 92 bilhões. Por dia, são 443 mortes, o que equivale a 161.853 por ano, 13% das mortes totais.

O consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados foi responsável por cerca de 57 mil mortes em 2019. Só as bebidas ultraprocessadas açucaradas, como o refrigerante e sucos industrializados, são responsáveis por 2,21 milhões casos de sobrepeso e obesidade em adultos, e mais de 721 mil casos em crianças e adolescentes, e o sistema de saúde gasta quase R$ 3 bilhões por ano na atenção a pacientes com doenças provocadas pelo consumo dessas bebidas.   

Bebidas alcoólicas causam, todos os anos, 3 milhões de mortes no mundo e 379 mil mortes nas Américas. Esses produtos são responsáveis por 22,4% de todas as mortes por lesões, 3,3% de todas as mortes por doenças transmissíveis, e 3,8% das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). O país perde 7,3% do PIB em decorrência de problemas relacionados ao álcool, equivalente a cerca de R$ 372 bilhões em termos de gastos com tratamentos e perda de capacidade de trabalho.

Reprodução: ACT Promoção da Saúde