Terceira Comissão da Assembleia Geral da ONU aprova Declaração Dos Direitos Dos Camponeses

Na tarde desta segunda-feira, 19 de novembro, os camponeses e camponesas conquistaram uma importante vitória, fruto que uma luta continental travada por longos anos, a aprovação da “Declaração da ONU sobre os Direitos dos Camponeses, Camponesas e Outras Pessoas que Trabalham nas Áreas Rurais” na Terceira Comissão da Assembleia Geral, sessão 53, na sede das Organizações das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Os Estados membros da ONU ratificaram a Declaração, – que será adotada formalmente em meados de dezembro deste ano -, com 119 votos a favor, 7 contra e 49 abstenções, inclusive o Brasil.

A Declaração é fruto de um longo processo de consultas, diálogos e negociações conduzidas por milhares de camponeses e camponesas ligados a Via Camponesa em todos os Continentes, junto com pastores, pescadores artesanais, trabalhadores agrícolas e organizações de povos indígenas, com o apoio do CETIM e da FIAN Internacional. Sua aprovação assegura a comunidade internacional que reconheça e proteja melhor os direitos das populações rurais.

Conforme as organizações, “esta declaração significa uma evolução importante e necessária do direito internacional e seria de suma importância para as populações rurais em cada Continente, que são sistematicamente afetadas diariamente pela discriminação e violação individual e / ou coletiva de seus direitos humanos”.

O documento foi apresentado à Comissão de Direitos Humanos da ONU ainda em 28 de setembro, em Genebra, Suíça, durante a última reunião do Conselho de Direitos Humanos de 2018 – sessão 39 -, e teve 33 países à favor, 3 contra e 11 abstenções, entre eles o Brasil. Após, a Declaração teve que ser aprovada à Terceira Comissão e em seguida, foi ratificada pela Assembleia Geral da ONU onde novamente o governo brasileiro se absteve, deixando evidente qual é a sua opção com relação aos direitos dos camponeses e sua preferência ao Agronegócio.

 

Por Comunicação MPA

Via Campesina denuncia posição do Brasil diante da Carta De Direitos Camponeses na ONU

Nesta terça-feira, 18 de setembro, a Via Campesina Brasil denunciou por meio de Nota Pública a posição do Brasil diante da Declaração sobre os Direitos dos Camponeses na Organização das Nações Unidas (ONU). O documento traz o repúdio e denuncia a atitude do Governo Brasileiro, assim como exige que o Brasil vote de forma afirmativa no Conselho a adoção da Declaração sobre os Direitos dos Camponeses, camponesas e outras pessoas que trabalham em áreas rurais.

Confira a nota na íntegra:

NOTA DE DENÚNCIA DA VIA CAMPESINA BRASIL SOBRE A POSIÇÃO DO BRASIL DIANTE DA CARTA DE DIREITOS CAMPONESES NA ONU

Desde 2012, o Conselho de Direitos Humanos da ONU criou um grupo de trabalho intergovernamental para que o mesmo redate e proponha uma declaração sobre direitos dos camponeses para que a mesma seja adotada pelo Conselho e logo aprovada pela ONU.

Este grupo de trabalho intergovernamental está sendo presidido pelo Governo da Bolívia e nestes 6 anos já se realizaram múltiplas consultas e instancias participativas para que a sociedade civil e os estados pudessem contribuir ao processo. Houve muitos debates e o texto original foi adaptado a cada ano incorporando as sugestões vindas tanto dos Países como da Sociedade civil.

O Brasil foi um dos Estados protagonistas comprometido com o processo, com muita participação e acompanhamento, contribuindo com muitas sugestões que foram sendo incorporadas. O Estado Brasileiro foi um amigo do Processo de construção da Declaração dos Direitos Camponeses, entendendo que é uma importante ferramenta para milhões de camponesas e camponeses tanto do Brasil como do mundo. Inclusive algumas políticas do Governo de Lula foram exemplos para serem levados em conta na declaração, pois as políticas públicas para a agricultura camponesa foram tomadas em conta na luta contra a fome.

Em 2017 o Conselho de Direitos Humanos aprovou uma resolução onde solicita ao Grupo de Trabalho Intergovernamental para realizar a última sessão de trabalho participativo em 2018 e apresentar a proposta definitiva ao Conselho na sessão de setembro de 2018.

Em abril/maio de 2018 houve sessão do grupo de trabalho onde o Brasil participou positivamente e não propôs novas mudanças e nem alterações. Porém, na consulta informal que realizou o grupo de trabalho surpreendeu que o delegado da missão brasileira em Genebra contraria todo histórico de participação do Brasil na construção da Carta e propõe estender o prazo para votação, solicitando que a declaração tenha um ano mais para ser debatida, sem argumentos concretos nem críticas ou aportes concretos.

A ação tem somente uma leitura: a intenção de atrasar o planejamento e o andamento desta histórica declaração, que colocara no seio das Nações Unidas os camponeses e camponesas como detentores de direitos e que será um guia para a discussão de políticas públicas em todos os países do mundo, para assegurar os direitos das famílias camponesas e a produção de alimentos saudáveis para os povos.

Repudiamos e denunciamos esta atitude do Governo Brasileiro e instamos que o Brasil vote afirmativamente no Conselho a adoção da Declaração sobre os Direitos dos camponeses, camponesas e outras pessoas que trabalham em áreas rurais.

 

Brasília, 18 de Setembro de 2018

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Via Campesina Brasil

Fonte: MPA

(crédito foto: Página MST)