Animação em vídeo busca alertar população sobre o novo campo de incidência do mercado do agronegócio
As grandes corporações do mercado de commodities têm apostado,
no último período, no desenvolvimento de novas
biotecnologias agrícolas. A incidência, além de ampliar o dependência de
agricultores ao concentrado mercado de insumos químicos e sementes e o
controle do mercado por corporações, localiza o país em um cenário de
insegurança alimentar e de ameaça à agrobiodiversidade.
O país que possui consumo recorde de agrotóxicos, já conta com 90
plantas transgênicas liberadas comercialmente no país – destas 70
modificadas para tolerar algum agrotóxico, e avança na implementação de
biotecnologias de alto risco.
Sem garantir a participação popular e o amplo debate público, a
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou, em janeiro
de 2018, a Resolução Normativa (RN) 16/2018, que estabelece requisitos
para a definição de novas biotecnologias com engenharia genética que
diferem das técnicas utilizadas em transgênicos. Com a nova normativa, a
CTNBio pode decidir que os organismos produzidos com o uso dessas
biotecnologias não se classificam como transgênicos ou organismos
geneticamente modificados (OGMs), e assim podem ser dispensadas de
avaliações de risco, sem monitoramento e sem rotulagem.
Essa normativa torna o Brasil um dos primeiros países do mundo a
possibilitar pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização deste
tipo de tecnologia – um campo de ampla incerteza e que soa como grande
alerta aos camponeses, organizações sociais e movimentos populares que
atuam na defesa da saúde, meio ambiente e soberania alimentar.
O que são os gene drives?
Uma das formas de biotecnologia mencionadas na Resolução é a condução genética ou redirecionamento genético (gene drives). Os gene drives
ou impulsores genéticos são formas de edição ou manipulação genética de
seres vivos. São formas mais perigosas dos transgênicos, que editam as
características genéticas, sem necessariamente incluir um gene novo, mas
manipulando os genes já existentes nos seres vivos. Isto é, uma
microcirurgia nas informações genéticas de seres vivos.
A técnica utiliza enzimas que “cortam e colam” (como a CrisPR/Cas9)
genes de seres com reprodução sexuada – a exemplo de plantas como o
milho e mosquitos – sem necessariamente introduzir genes de outros
organismos ou sintéticos.
Essas mudanças alteram as funções originais das plantas e tem o poder
de transmitir suas características modificadas para a integralidade de
seus descendentes e assim conseguiriam transformar uma espécie inteira,
editando genomas para que as características modificadas prevaleçam
integralmente para todos os descendentes. Desta forma, a prática pode
ter efeitos irreversíveis ou incontroláveis e, inclusive, podem
exterminar toda uma espécie.
Também se pode avançar nas tecnologias prometidas aos transgênicos,
como a tolerância aos agrotóxicos, a época ou período de frutificação ou
germinação e adaptação da espécie para o grande maquinário
agroindustrial.
Posicionamento internacional
Há duas frentes majoritárias no posicionamento dos países em relação a
novas biotecnologias. A primeira diz respeito a não possibilitar a
aplicação tendo em vista as incertezas que a prática ainda suscita. A
segunda, adotada pelo Brasil, permite a utilização das novas
biotecnologias com a atenção ao princípio da precaução previsto no
Protocolo de Cartagena .
Durante a 14ª Conferência das Partes da Convenção da Diversidade
Biológica (COP 14) realizada em dezembro de 2018 os movimentos sociais e
organizações da sociedade civil presentes, bem como o Egito, Tailândia,
Bolívia e El Salvador se posicionaram pela abstenção da utilização dos condutores genéticos enquanto houver incertezas nas pesquisas sobre os riscos.
Já o Brasil, os países africanos, a Nova Zelândia, Malásia, Índia,
Indonésia, Argentina, Peru, Canadá, Panamá e Suíça sustentaram a posição
de utilização dessas novas tecnologias com precaução e análise caso a
caso, sendo esta a posição consolidada no documento oficial.
Previsto na Constituição Federal, o país possui o dever da proteção
ao meio ambiente, com garantia da adoção de medidas de cautela diante
de atividades impactantes ou cujos efeitos ainda são desconhecidos.
Vulnerável aos interesses de empresas que atacam o princípio da
precaução dizendo que seus defensores buscam certeza científica de risco
zero, a implementação de novas biotecnologias ou novas técnicas de
edição genética vulnerabiliza a sociedade aos interesses de empresas e
governos.
Animação
Elaborada pelo Grupo de Trabalho Biodiversidade da Articulação Nacional
de Agroecologia (ANA), coletivo que congrega diferentes organizações e
movimentos sociais, o material busca explicar, de forma didática, como a
nova biotecnologia se apresenta como uma ameaça ao meio ambiente, à
agrobiodiversidade e à sociedade.
O material pode ser utilizado em atividades formativas e provocações de debate público com diferentes públicos.
:: Assista aqui a animação
Ficha Técnica
Título: Os Gene Drives e as novas manipulações genéticas na agricultura
Gênero: animação
Duração: 4 minutos
Lançamento: Brasil, 2019
Classificação: Livre
Realização: Grupo de Trabalho Biodiversidade – Articulação Nacional de Agroecologia e Terra de Direitos
Produtora: Canteiro Audiovisual
Roteiro e Direção: Guilherme Daldin
Argumento: Naiara Bittencourt, Leonardo Melgarejo
Revisão: Naiara Bittencourt, Lizely Borges, Franciele Petry, Leonardo Melgarejo
Contribuições: Maria Mello, Carla Bueno, Flávia Londres, Gabriel Fernandes, João Dagoberto dos Santos, Marciano Silva
Design: Renato Próspero
Animação/After Effects: Luiz Abreu (Seven 8 Digital Compositing)
Produção: Camille Bolson e José Eduardo Pereira
Fonte: ANA